Como o ESG pode auxiliar na preservação da biodiversidade?

Onça em um galho envolto por folhas verdes de árvores.

Mesmo com o ESG dominando o cenário de investimentos, o foco em um futuro melhor se concentrou amplamente na mitigação das mudanças climáticas. Mas, com metade do PIB global contando com a natureza, a cada ano US $479 bilhões de valor são perdidos devido à degradação do ecossistema e impacto negativo na biodiversidade.

Um relatório contundente divulgado pelo WWF, revelou que as populações de animais selvagens caíram em mais de dois terços em menos de meio século. Com o aumento da pressão sobre os governos para que ajam, os investidores pouco fizeram no sentido de abordar a questão.

Ao mesmo tempo, as empresas podem ter grandes impactos negativos sobre a biodiversidade. Embora os negócios sejam parte do problema, também são parte da solução – é possível oferecer soluções inovadoras  para a conservação. 

Para celebrar o Dia da Biodiversidade, vamos mostrar o que organizações que geram impacto sobre o tema podem fazer para “virar a chave” e agregar valor aos seus negócios de forma positiva, e também evitar a catástrofe ambiental e financeira gerada pela perda da biodiversidade. 

Perda da biodiversidade: quarto risco global 

De acordo com uma avaliação recente da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos IPBES, os países não conseguiram identificar os principais responsáveis ​​pela perda de biodiversidade, nem foram capazes de implementar uma legislação adequada ou reunir os recursos financeiros necessários para impedir a exploração das espécies.

Relatórios sobre o fator “E” de “ESG” há muito tempo são dominados por dados sobre emissões de gases de efeito estufa, mas investidores e reguladores estão cada vez mais voltando sua atenção para ativos naturais como água, solo e organismos vivos.

Tais ativos – conhecidos coletivamente como capital natural – fornecem aos humanos uma ampla gama de bens e serviços, incluindo alimentos, medicamentos, proteção contra enchentes e polinização.

Empresas comprometidas em lidar com os riscos e oportunidades da biodiversidade associados às suas atividades, precisam cada vez mais de informações sobre a situação das espécies e habitats encontrados em suas operações e cadeias de abastecimento.

4 dicas de como o ESG pode atuar sobre a redução do impacto sobre a diversidade

A comunidade financeira está expressando crescente preocupação com as consequências econômicas do esgotamento dos ativos naturais. Uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial (WEF), mostra que US $44 trilhões em valor econômico – mais da metade do PIB mundial – é moderada ou altamente dependente da natureza e dos seus serviços.

No Relatório de Riscos Globais 2020 do WEF – baseado em uma pesquisa com mais de 800 especialistas e tomadores de decisão renomados -, a perda de biodiversidade foi identificada como o quarto risco global mais provável nos próximos 10 anos e o terceiro mais sério em termos de impacto potencial.

Ambas as classificações são significativamente mais altas do que nos anos anteriores. Em um comentário sobre o relatório do WEF, Peter Giger, diretor de risco do grupo da Zurich Insurance, disse: “As empresas devem desenvolver métricas que avaliem o valor da natureza para seu trabalho e torná-las centrais para sua tomada de decisão. Os humanos já causaram a perda de 83% dos mamíferos selvagens e metade das plantas do mundo”, e ainda alertou: “Essas perdas estão ocorrendo mais rápido do que nunca. Isso vai atingir os resultados financeiros, seja pela redução dos estoques de peixes, pela interrupção do fornecimento de commodities correntes ou pela perda de fontes potenciais de novos medicamentos”.

Conheça agora quatro iniciativas que vêm sendo discutidas por gestores de fundos mundiais e que podem fazer a diferença no movimento de preservação da biodiversidade e dos negócios:

1- Forme parcerias público-privadas

A construção de parcerias público-privadas para investir em riqueza natural pode ajudar a transformar a conservação da biodiversidade em um motor de crescimento. As partes interessadas estão começando a apreciar o valor dos ecossistemas e o papel que desempenham na aceleração do crescimento econômico. 

O setor privado investe na conservação da biodiversidade para criar valor, garantir cadeias produtivas e aprimorar seus modelos de negócios – assim como os governos, pois as espécies e recursos naturais fazem parte da riqueza nacional e das atividades econômicas. As instituições financeiras e bancos também estão se preparando para fornecer financiamento e conhecimento de longo prazo para a conservação da biodiversidade.

“Investimos em empresas que podem ter um impacto material na biodiversidade e integram a mesma na análise ESG da nossa empresa. A biodiversidade é um componente fundamental da sustentabilidade dos negócios a longo prazo, uma vez que as empresas contam com recursos naturais como insumos e dependem de ecossistemas saudáveis”, explica Jacob Michaelsen, chefe de consultoria de finanças sustentáveis ​​da Nordea – banco e grupo financeiro nórdico, fundado em 1997 e estabelecido com o nome atual em 2001, sediado em Helsínquia, na Finlândia.

2 – Faça parcerias com a ciência, academia, especialistas, ONGS e grupos de preservação

Muitas empresas têm um impacto significativo na biodiversidade ou dependem fortemente dos ecossistemas para seu modelo de negócios. No entanto, a biodiversidade está ameaçada. O engajamento temático sobre o assunto estabelece o que as empresas já estão fazendo, identifica as melhores práticas e estimula uma melhor divulgação.

Um desafio tem sido medir a biodiversidade. Em comparação com as mudanças climáticas, onde as emissões de gases de efeito estufa são usadas como um indicador universalmente aceito, ela é uma questão local e ainda não existem indicadores padronizados. 

Isso levou as empresas a estabelecerem parcerias com órgãos científicos e acadêmicos, especialistas locais, ONGs e grupos de preservação da vida selvagem, que também podem ajudar no desenvolvimento de políticas para proteger a biodiversidade.

“Embora nem todas as empresas que visamos tenham políticas de biodiversidade detalhadas até o momento, e menos ainda são capazes de medir seus impactos para reduzi-los, fomos incentivados por várias iniciativas. Por exemplo, o Carrefour definiu metas para apoiar 500 agricultores na conversão para métodos de agricultura orgânica até 2022. É claro pelos nossos compromissos, que as empresas podem ter um impacto benéfico na natureza. Continuaremos a nos envolver de forma construtiva com as empresas na questão da biodiversidade e esperamos que outros investidores façam o mesmo”, conta Esmé van Herwijnen, analista sênior de investimentos responsável da EdenTree Investment Management – empresa de gestão de investimentos que opera como subsidiária do Ecclesiastical Insurance Group e totalmente controlada pela Allchurches Trust.

3 – Relate seu impacto

Nos últimos 50 anos, o aumento da população humana de 3,6 bilhões para 7,6 bilhões de pessoas, exigiu que fossem cultivados mais do que o dobro da quantidade de alimentos, e isso criou enormes pressões para habitar áreas que antes eram reservadas à fauna e à flora selvagem. 

O impacto tem sido a perda maciça da biodiversidade, ou seja, a degradação do ecossistema e o colapso da população animal e vegetal.

O valor que se ganha ao manter um ecossistema em funcionamento adequado é dado como certo e a ameaça é muito difícil de ser percebida. Quando se coloca um valor na natureza, raramente ele está alinhado com a manutenção da biodiversidade. 

Por exemplo, atribuir um valor baixo a mosquitos ou minhocas, mas um valor alto a vacas, trigo ou cana-de-açúcar, estimula analisar a perda de biodiversidade como um problema econômico que contém elementos de precificação ineficiente e falha de mercado. Mas um problema de tal escala deve combinar respostas educacionais, políticas, jurídicas e econômicas.

“Encorajamos as empresas investidas a reconhecer, medir e relatar seu impacto. Colocar pouco ou nenhum custo nos recursos naturais e ocultar o problema, encoraja a destruição em massa. Ao ter plena consciência dos danos não custeados que causam, as equipes de gestão podem enfrentá-los, os reguladores podem definir controles mais eficazes e os investidores podem se envolver melhor com as empresas que possuem para encorajar a mudança – é apenas contabilizando adequadamente o capital natural que veremos que uma árvore vale mais viva do que morta”, Henry Boucher, vice-CEO e co-gerente de portfólio do Food and Agriculture Opportunities Fund da Sarasin & Partners.

4 – Invista em ativos florestais 

Não há dúvida de que estamos em meio a uma crise de biodiversidade causada pela atividade humana. Muitas espécies foram dizimadas por humanos invadindo terras naturais e perturbando os ecossistemas estabelecidos. Sendo a atividade comercial um dos maiores contribuintes para esta perda de diversidade, existem caminhos limitados para os investidores que desejam ajudar a remediar a situação.

Embora as florestas comerciais sejam frequentemente difamadas por contribuírem para essa perda de diversidade, elas permanecem como vastos ambientes naturais desabitados. Vale lembrar que elas são o lar de muitas espécies e até mesmo ajudaram alguns a voltar da beira da extinção.

Nos últimos anos, o regime de certificação do Forestry Stewardship Council – que ajuda empresas e consumidores a identificar florestas bem manejadas – elevou o padrão do plantio florestal comercial para salvaguardar a diversidade da flora e da fauna.

“Ao investir em ativos florestais, os investidores podem contribuir diretamente para a regeneração de espécies selvagens. Enquanto isso, as florestas comerciais têm um impacto mensurável no clima, prendendo as emissões de CO2 que permanecem presas no produto final da madeira, muito depois de a mesma ser derrubada. Com a demanda de madeira aumentando à medida que a crescente população global enfrenta uma escassez de moradias, os investidores podem ajudar a criar algo de grande valor para o meio ambiente – um material de captura de carbono sustentável e renovável para compensar aço e concreto”, diz Olly Hughes, diretor-gerente de silvicultura da Gresham House.

Diretrizes para empresas comprometidas com a melhoria do desempenho da biodiversidade

As empresas comprometidas em lidar com os riscos e oportunidades da biodiversidade associados às suas atividades, precisam cada vez mais de informações sobre a situação das espécies e habitats encontrados em suas operações e em suas cadeias de abastecimento.

O Programa de Negócios e Biodiversidade da IUCN e o Grupo de Especialistas em Monitoramento de Espécies da Comissão de Sobrevivência de Espécies (SSC) da IUCN, com a contribuição e apoio da Nespresso, Boskalis e Alcoa, criaram diretrizes para planejar e monitorar o desempenho corporativo da biodiversidade. 

As diretrizes oferecem uma abordagem para o desenvolvimento de um plano estratégico de biodiversidade em nível corporativo, incluindo metas e objetivos mensuráveis ​​e um conjunto de indicadores básicos vinculados, que permitirão às empresas medir o desempenho de sua biodiversidade em suas operações. 

Quem pode usar 

Podem ser utilizadas por qualquer empresa de qualquer setor que tenha impactos e dependências sobre a biodiversidade, seja ela grande ou pequena, nacional ou multinacional.

Elas são direcionadas a equipes de sustentabilidade, gerentes e outros funcionários da empresa cujas funções incluem planejamento estratégico e relatórios relacionados à biodiversidade. 

O foco está em um ciclo completo, abordagem de gestão baseada em resultados (não apenas análises de risco, definição de metas ou desenvolvimento de indicadores), uma vez que avaliar as pressões sobre a biodiversidade, planejar e desenvolver metas mensuráveis ​​são pré-requisitos essenciais para o monitoramento. 

Conforme o Dr. PJ Stephenson, presidente do Grupo de Especialistas em Monitoramento de Espécies do SSC da IUCN: “Com base em muitos anos de experiência na IUCN, seus membros e parceiros, traduzimos as ferramentas de gestão da conservação para um contexto de negócios. As Diretrizes ajudarão as empresas a fazer mais com o objetivo de  definir e medir suas contribuições para os objetivos globais de conservação e abordar diretamente o estado perigoso das espécies e ecossistemas em nosso planeta ”, explica.

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